quarta-feira, 8 de agosto de 2012


Greve de fiscais retém 300 toneladas de atum em Natal


Andrielle Mendes - repórter

A greve dos fiscais agropecuários federais, deflagrada em todo o país na última segunda-feira, já causa prejuízos no Rio Grande do Norte. Os agentes - ligados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - suspenderam por tempo indeterminado inspeções, registro e certificação de produtos, afetando a importação e exportação de produtos de origem vegetal e animal. No Porto de Natal, um carregamento de 300 toneladas de atum foi retido. A carga, avaliada em US$ 2 milhões (o equivalente a R$4,05 milhões, considerando o dólar comercial a R$ 2,0280), seguiria já nesta quarta-feira para o destino final. 
Emanuel AmaralEmbarcação que pescou o atum está ancorada no porto: o produto será transferido hoje para contêineresEmbarcação que pescou o atum está ancorada no porto: o produto será transferido hoje para contêineres

Cerca de 250 toneladas seguiriam para o Japão, principal consumidor, e o restante seria comercializado dentro do Brasil, como explica Gabriel Calzavara, presidente da Atlântico Tuna e responsável pelo carregamento, um dos maiores da empresa. 

A empresa teve que alugar conteinners especiais para acondicionar o pescado resfriado a menos de 60 graus e também terá que pagar pela permanência da carga no porto. Gabriel estima que o prejuízo fique em torno de US$ 15 mil por dia (equivalente a R$ 30,4 mil por dia). "O problema é que a gente não sabe quando a greve vai terminar", observa. 

O pescado será transferido da embarcação pesqueira para conteinners especiais hoje pela manhã. Ainda não há previsão para liberação da carga, segundo Gabriel. A demora não afeta a qualidade do produto, mas provoca a quebra de contratos. "O pescado, que será acondicionado na câmara fria, pode esperar. O mercado  não", diz ele, que passou a tarde inteira negociando a liberação da embarcação e ligando para os clientes. Dois novos desembarques da empresa, que captura atum no oceano Atlântico em parceria com a japonesa Japan Tuna, estão previstos para setembro. 

De acordo com Januspablo Fonseca de Macêdo, delegado sindical do Sindicato dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) no Rio Grande do Norte, apenas cargas perecíveis e animais vivos - como frutas, principais itens da pauta de exportação - serão despachados. O restante ficará retido até segunda ordem. Só os serviços considerados essenciais serão mantidos. 

Antes de ser informado do incidente, o presidente da Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), responsável pelo porto, Pedro Terceiro de Melo, que estava em viagem, chegou a dizer que a greve dos fiscais agropecuários federais não afetaria a operação do porto. "Não afetou ainda e acredito que não vai afetar", disse minutos antes de ser informado. 

Em todo o país, os fiscais reivindicam melhores condições de trabalho, reestruturação da carreira e contratação de profissionais mediante concurso público. No Brasil, são 3,2 mil profissionais. No RN, são 33 médicos-veterinários, engenheiros agrônomos, farmacêuticos, químicos e zootecnistas - 12 deles com idade suficiente para se aposentar. Segundo Januspablo, seriam necessários, pelo menos, 60, para atuar no porto, aeroporto, frigoríficos e indústrias de alimentos e bebidas.

Trinta e um fiscais aderiram à greve no Estado. "Trabalhamos sobrecarregados. Estamos no limite", afirma o delegado sindical. A categoria, explica Januspablo, está em negociação com o governo federal desde janeiro de 2010. "O governo, no entanto, cancelou a última reunião, e nós decidimos iniciar o movimento". 

Em nota, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento afirmou que está disposto a dialogar desde que os serviços essenciais sejam mantidos. "O Mapa está monitorando dia a dia, por meio de relatórios das superintendências, o andamento das atividades", afirma a nota.

Paralisação não afeta auditoria sobre aftosa 

A greve dos fiscais agropecuários  não atrapalhou a inspeção realizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) entre o final de julho e início de agosto no Rio Grande do Norte. A auditoria, que tinha como objetivo avaliar o cumprimento das metas da campanha de vacinação contra a febre aftosa no estado, "foi realizada normalmente", segundo informou o Sindicato dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical).

O Rio Grande do Norte, considerado área de risco médio da doença, quer se tornar área livre de aftosa com vacinação ainda este ano. O Mapa foi procurado, mas não respondeu quando o relatório será finalizado nem quando as barreiras sanitárias levantadas em estados vizinhos, que limitam o tráfego de animais e produtos pecuários do RN, serão derrubadas. 

Deficiências encontradas no serviço prestado pelo Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária do Rio Grande do Norte (Idiarn) ainda estão rendendo restrições quanto ao trânsito de animais e a comercialização de produtos pecuários. Além do RN, Paraíba, parte do Pará, Roraima, Amapá e Amazonas (exceto parte dos municípios de Lábrea e de Canutama e as cidades de Boca do Acre e Guajará) sofreram restrições por parte do Ministério. 

As "barreiras", como explicou o coordenador do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da febre Aftosa (Pnefa), do Mapa, Plínio Leite Lopes, na época, devem se estender até que o Estado saia da área de risco médio. No mês de maio, foram 'levantadas' 17 barreiras nas fronteiras com o Rio Grande do Norte e Paraíba, que ainda não conseguiram mudar o status. 

Permanecer com o status de risco médio poderia prejudicar desde a comercialização de derivados de leite até a exportação de frutas pelo Rio Grande do Norte. Países como os Estados Unidos poderiam levantar barreiras fitossanitárias para impedir a entrada de produtos potiguares, admitiu a Secretaria Estadual de Agricultura e Pesca. 

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