sexta-feira, 30 de novembro de 2012

DF 1 branco assassinado para cada 7 negros, indica estudo



Índice leva em consideração número absoluto de mortes violentas em 2010.
Comparação proporcional por raça coloca o DF em 4º lugar em ranking.

Do G1 DF

Levantamento do Mapa da Violência mostra que sete negros são assassinados no Distrito Federal para cada branco vítima de homicídio. O número é mais que o dobro da média nacional, de três negros assassinados para cada branco. As informações se referem ao número absoluto de mortes violentas registradas em 2010, sem levar em consideração o percentual de população de cada raça.
Os dados foram divulgados nesta quinta (29) e são resultado de uma pesquisa realizada em parceria pelo Centro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e pela Secretaria de Políticas e Promoção da Igualdade Social, do governo federal, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento abrange também registros entre 2002 e 2010 e dados por número de habitantes.
Sem levar em consideração o percentual de negros e brancos da população, a unidade federativa que com maior diferença entre as raças é Alagoas, com 40 negros assassinados para cada branco. Em seguida vem a Paraíba, com 29 negros para cada branco. Os estados do Sul são os únicos que registram maior número de mortes de brancos em relação a negros. Em Santa Catarina, são 6 brancos assassinados para cada negro; no Paraná e no Rio Grande do Sul a proporção é de 5 para 1.
A segurança pública é violenta contra os negros, a educação é excludente, o sistema de saúde atende de forma diferenciada as mulheres negras e a mídia por muito tempo colocou os negros numa condição de subserviência. É um conjunto de fatores que leva à banalização da morte da juventude negra, como se cada caso fosse mais uma coisa, uma figura que morreu"
Renísia Garcia Filino, doutora em Políticas Públicas, Gênero e Raça
Recorte por raçasQuando se leva em consideração o percentual de negros e brancos por grupo de 100 mil habitantes de cada raça, a proporção no DF é de cinco negros para cada branco assassinado (diferença de 406% nos índices de homicício entre as duas raças).
Esse índice, chamado de “vitimização”, coloca a capital na quarta posição entre as unidades da federação, atrás da Paraíba, que tem 1.824% mais mortes de negros do que brancos a cada grupo de 100 mil habitantes, Alagoas, com 1.713%, e Pernambuco, com 609%. A média nacional é de 132%. Nesse quesito, apenas o Paraná registra percentual negativo, com -42,6%. Os estados que vêm a seguir são Santa Catarina, com 5,8%, Acre, com 28,8%, e São Paulo, com 32,1%.
“Este índice é mais fiel ao quadro porque leva em consideração a quantidade de negros e brancos de cada lugar”, disse ao G1 o autor da pesquisa, Julio Jacobo Waiselfisz.
A pesquisa mostra ainda que mais que dobraram os casos de homicídio de negros em relação ao de brancos entre 2002 e 2010 no DF. De 2002 a 2010, o número de brancos assassinados pulou de 103 para 112, um aumento de 8,7%. Já entre a população negra, o número passou de 632 para 762, um crescimento de 20,6%.
20,6% foi o crescimento de homicídios entre negros de 2002 a 2010; entre os brancos, o crescimento foi de 8,7% no mesmo período.
O Distrito Federal fica em 18º lugar quando comparados os assassinatos de brancos por grupo de 100 mil habitantes, com índice de 10,4%. Já em relação a mortes de negros, o DF tem 52,8 homicídios por grupo de 100 mil habitantes, 6º lugar no ranking entre as unidades da federação, de acordo com o estudo.
O DF também está entre as oito unidades da federação que ultrapassam a marca dos 100 homicídios para cada 100 mil jovens negros. Entre 2002 e 2010 houve queda de 12,5% nos assassinatos de jovens brancos do DF. Entre os jovens negros, o aumento foi de 10,8%.
“Preocupa enormemente não só o elevado índice de vitimização negra que encontramos em 2010. Preocupa mais ainda a tendência crescente do problema. Os níveis atuais de vitimização negra já são intoleráveis, mas se nada for feito de forma imediata e drástica, a vitimização negra no país poderá chegar a patamares inadmissíveis pela humanidade”, aponta o Mapa da Violência 2012.
Preocupação social
Para a professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília Renísia Garcia Filino, doutora em Políticas Públicas, Gênero e Raça, os elevados números de homicídio contra os jovens negros no Brasil se devem ao que ela denomina “racismo estruturante”, que inclui o tratamento diferenciado a brancos e negros em diversas esferas e níveis da sociedade.
“A segurança pública é violenta contra os negros, a educação é excludente, o sistema de saúde atende de forma diferenciada as mulheres negras e a mídia por muito tempo colocou os negros numa condição de subserviência. É um conjunto de fatores que leva à banalização da morte da juventude negra, como se cada caso fosse mais uma coisa, uma figura que morreu”, disse.
Segundo Renísia, é necessária a aplicação de programas de combate à violência contra a população negra. “Existem recursos, mas muitos municípios não gastam. Isso tem a ver com a invisibilidade da mortalidade dos negros na sociedade”, afirmou.

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