RN é o oitavo do país em número de fraudes virtuais
Yuno Silva - repórter
A tendência de realizar cada vez mais transações financeiras por meio eletrônico, incluindo compras com cartões de crédito e de débito e saques em terminais bancários, é diretamente proporcional ao aumento de fraudes e delitos relacionados a esses tipos de operações. Entre as modalidades criminosas mais comuns, a clonagem de cartão figura em posição de destaque. Em recente levantamento divulgado pela ClearSale, empresa responsável por monitorar cerca de 80% do comércio eletrônico no Brasil, o Rio Grande do Norte está entre os 10 estados que mais sofrem fraudes virtuais no país.
A pesquisa é relativa ao primeiro semestre de 2012 e os números apontam que 5,19% de toda a movimentação no RN houve fraude ou tentativa de fraude. No relatório apresentado o Ceará aparece em primeiro lugar com 8,18%; Bahia vem em segundo com 7%; seguidos por Maranhão 6,71%, Distrito Federal 6,27% e Pernambuco, onde 6,22% das transações financeiras por meio eletrônico são falsas. "Há uma carência grande na fiscalização desse tipo de negócio na região Nordeste", verifica Kelly Souza, da assessoria de imprensa da ClearSale. "Na lista dos dez estados com os maiores índices de fraudes eletrônicas, sete são nordestinos".
"Esse tipo de crime é extremamente lucrativo, e há muitas quadrilhas com ramificações interestaduais atuando no RN", disse Érico César, chefe de investigação no Núcleo de Investigação dos Crimes de Alta Tecnologia da Polícia Civil do RN. A questão é que, com a popularização dos cartões, o problema tende a se agravar.
"Cartão é melhor que assalto, o criminoso faz compras e se não der certo descarta e pronto", destacou Gilberto Fernando Maciel da Silva, chefe de investigação da Delegacia Especializada em Falsificações e Defraudações (DEFD). "Mas estamos fazendo um trabalho sério, inclusive junto às administradoras de cartões de crédito, para evitar esse tipo de crime", salienta o chefe de investigações da DEFD.
As ocorrências que envolvem falsificação, clonagem e troca de cartões chegam a 20% do volume total de registros da Defraudações, a maior entre as especificidades registradas na delegacia, que só abre inquérito para investigar fraudes acima de 30 salários mínimos - ou R$ 18,66 mil. "Esse valor serve como uma espécie de filtro, se fôssemos investigar todos os casos, esse índice seria bem maior", garante Gilberto.
O Boletim de Ocorrência, independente do valor, deve ser lavrado em qualquer delegacia. O cliente lesado pode procurar, além da polícia, o banco e/ou a administradora que emitiu o cartão e a loja onde a compra foi feita.
INQUÉRITOS
Cerca de três mil inquéritos tramitam na Defraudações, sendo 20% sobre clonagem de cartões e 18% de empréstimos realizados com documentação falsa. "A terceira maior ocorrência, o financiamento de veículos com documentos falsos, o chamado 'carro estouro', diminuiu substancialmente, pois as financeiras adotaram novas restrições para fechar negócios", disse Gilberto Maciel da Silva.
Segundo ele, o ponto de partida da investigação é a denúncia. "Desbaratamos uma quadrilha há dois meses aqui em Natal, com cerca de 60 cartões clonados. É relativamente fácil adquirir equipamentos para 'fabricar' cartões falsos, não há qualquer controle, o ato ilícito está na coleta dos dados e sua utilização indevida". O agente contou que a quadrilha tinha rolos de selos holográficos: "É mais difícil, mas estão clonando até cartão com chip", informou.
Para conseguir dados e informações bancárias, a polícia destaca quatro opções mais comuns: o fishing, que 'pesca' informações através da internet após o usuário ser 'fisgado' por mensagens suspeitas; rotinas automatizadas; clonagem manual, que pega os dados a partir de anotações ou troca de cartão; e clonagem utilizando o método 'chupa cabra', aquele que instala programas e/ou equipamentos em terminais eletrônicos para gravar senhas entre outras informações.
NÚCLEO ESPECIALIZADO
Com apenas três agentes, um delegado e estrutura deficitária, o Núcleo de Investigação dos Crimes de Alta Tecnologia, responsável pela parte mais técnica das investigações de crimes que envolvem tecnologia. Atualmente o NICAT investiga 50 casos. "Estamos na expectativa para que sejam apreciados, o quanto antes, os projetos que tramitam no Congresso Nacional criando leis específicas para crimes cometidos na internet".
César explicou que as fraudes cibernéticas são agrupadas em dois grupos: o "próprio", que envolvem hackers, ataques a páginas eletrônicas e/ou roubo de informações digitais; e "impróprio", estelionato via internet, furtos e clonagem de cartões.
Bate-papo
Omar Jarouche, coordenador da área de estatística da ClearSale
Como atestar se uma compra pode ou não ser fraude?
A partir do cruzamento de dados, compartilhadas por grandes redes varejistas, conseguimos traçar um perfil do cliente. Através de informações pessoais e hábitos de consumo, como endereço para entrega ou preferência de compra em determinado estabelecimento, autenticamos ou não uma transação. É importante frisar que nosso trabalho não é encontrar o fraudador, e sim resguardar o bom cliente e minimizar possíveis prejuízos de quem está vendendo. Esse processo de averiguação é todo automatizado, considera mais de 250 variáveis, e leva alguns segundos para ser concluído.
E como funciona esse processo?
Imagine alguém que vai comprar pela internet e escolhe pagar com cartão de crédito. Ao mesmo tempo que o cliente recebe uma mensagem para confirmar a transação, os dados pessoais cadastrados pelo varejista são compartilhados com a ClearSafe. Funciona como uma grande 'rede social' privativa, onde só nós temos acesso a endereço, telefone, números de documentos, informações bancárias e perfil de consumo de cerca de 80% de todos os clientes que utilizam o E-commerce no Brasil. A segurança aumenta na medida que as informações são compartilhadas por grandes varejistas e companhias aéreas, por exemplo, dessa forma todos acabam se protegendo.
Mas o sistema não é 100% garantido?
Não, o foco do trabalho é preventivo. No mundo virtual, quem arca com o risco da fraude nas compras através de cartão de crédito é o lojista; diferente do mundo real, que precisa senha e que deveria ser solicitado documento com foto do cliente a cada compra, onde o risco é assumido pelo emissor do cartão.
Qual o procedimento quando uma possibilidade de fraude é detectada?
Fazemos tudo para não cancelar a compra antes de averiguar a autenticidade, mas se houver probabilidade de ser fraude informamos a loja e desviamos a transação para uma análise individual - onde, se for preciso, um analista entra em contato com o cliente para confirmar informações da compra.
Quais os principais produtos alvo de fraudes?
Quem comete esse tipo de crime não está querendo o produto em si, ele quer liquidez, dinheiro, e no mercado paralelo os produtos eletrônicos, jogos e calçados são mais fáceis de se transformar em dinheiro.
E quanto à segurança?
Muito se fala de clonagem de cartão, mas na internet não precisa de nenhum aparato sofisticado apenas do número. Se alguém copiar os números do cartão de crédito, ou mesmo fotografar o cartão já basta para iniciar uma tentativa de fraude.
Dicas
As recomendações mais comuns para evitar ser vítima de crimes virtuais ou clonagem de cartão são:
. desconfiar de mensagens suspeitas (bancos e Receita Federal, por exemplo, não enviam e-mails pedindo informações);
. utilizar caixas eletrônicos em locais de grande circulação, de preferência nos terminais instalados nas próprias agências bancárias;
. não informar dados bancários e senhas por telefone;
. quando realizar compras por telefone com cartão de crédito, dar preferência para empresas com experiência de mercado;
. guardar comprovantes de compras e ficar atento a qualquer cobrança indevida, por menor que seja, no extrato;
. assinar serviços oferecidos pelas administradoras de cartões de crédito, como envio de mensagens eletrônicas para celular a cada compra entre outros que garantem o cancelamento de compras indevidas.
A tendência de realizar cada vez mais transações financeiras por meio eletrônico, incluindo compras com cartões de crédito e de débito e saques em terminais bancários, é diretamente proporcional ao aumento de fraudes e delitos relacionados a esses tipos de operações. Entre as modalidades criminosas mais comuns, a clonagem de cartão figura em posição de destaque. Em recente levantamento divulgado pela ClearSale, empresa responsável por monitorar cerca de 80% do comércio eletrônico no Brasil, o Rio Grande do Norte está entre os 10 estados que mais sofrem fraudes virtuais no país.
Alex RégisA clonagem de cartões ou utilização de dados no mercado virtual é a fraude mais utilizada no RN
A pesquisa é relativa ao primeiro semestre de 2012 e os números apontam que 5,19% de toda a movimentação no RN houve fraude ou tentativa de fraude. No relatório apresentado o Ceará aparece em primeiro lugar com 8,18%; Bahia vem em segundo com 7%; seguidos por Maranhão 6,71%, Distrito Federal 6,27% e Pernambuco, onde 6,22% das transações financeiras por meio eletrônico são falsas. "Há uma carência grande na fiscalização desse tipo de negócio na região Nordeste", verifica Kelly Souza, da assessoria de imprensa da ClearSale. "Na lista dos dez estados com os maiores índices de fraudes eletrônicas, sete são nordestinos".
"Esse tipo de crime é extremamente lucrativo, e há muitas quadrilhas com ramificações interestaduais atuando no RN", disse Érico César, chefe de investigação no Núcleo de Investigação dos Crimes de Alta Tecnologia da Polícia Civil do RN. A questão é que, com a popularização dos cartões, o problema tende a se agravar.
"Cartão é melhor que assalto, o criminoso faz compras e se não der certo descarta e pronto", destacou Gilberto Fernando Maciel da Silva, chefe de investigação da Delegacia Especializada em Falsificações e Defraudações (DEFD). "Mas estamos fazendo um trabalho sério, inclusive junto às administradoras de cartões de crédito, para evitar esse tipo de crime", salienta o chefe de investigações da DEFD.
As ocorrências que envolvem falsificação, clonagem e troca de cartões chegam a 20% do volume total de registros da Defraudações, a maior entre as especificidades registradas na delegacia, que só abre inquérito para investigar fraudes acima de 30 salários mínimos - ou R$ 18,66 mil. "Esse valor serve como uma espécie de filtro, se fôssemos investigar todos os casos, esse índice seria bem maior", garante Gilberto.
O Boletim de Ocorrência, independente do valor, deve ser lavrado em qualquer delegacia. O cliente lesado pode procurar, além da polícia, o banco e/ou a administradora que emitiu o cartão e a loja onde a compra foi feita.
INQUÉRITOS
Cerca de três mil inquéritos tramitam na Defraudações, sendo 20% sobre clonagem de cartões e 18% de empréstimos realizados com documentação falsa. "A terceira maior ocorrência, o financiamento de veículos com documentos falsos, o chamado 'carro estouro', diminuiu substancialmente, pois as financeiras adotaram novas restrições para fechar negócios", disse Gilberto Maciel da Silva.
Segundo ele, o ponto de partida da investigação é a denúncia. "Desbaratamos uma quadrilha há dois meses aqui em Natal, com cerca de 60 cartões clonados. É relativamente fácil adquirir equipamentos para 'fabricar' cartões falsos, não há qualquer controle, o ato ilícito está na coleta dos dados e sua utilização indevida". O agente contou que a quadrilha tinha rolos de selos holográficos: "É mais difícil, mas estão clonando até cartão com chip", informou.
Para conseguir dados e informações bancárias, a polícia destaca quatro opções mais comuns: o fishing, que 'pesca' informações através da internet após o usuário ser 'fisgado' por mensagens suspeitas; rotinas automatizadas; clonagem manual, que pega os dados a partir de anotações ou troca de cartão; e clonagem utilizando o método 'chupa cabra', aquele que instala programas e/ou equipamentos em terminais eletrônicos para gravar senhas entre outras informações.
NÚCLEO ESPECIALIZADO
Com apenas três agentes, um delegado e estrutura deficitária, o Núcleo de Investigação dos Crimes de Alta Tecnologia, responsável pela parte mais técnica das investigações de crimes que envolvem tecnologia. Atualmente o NICAT investiga 50 casos. "Estamos na expectativa para que sejam apreciados, o quanto antes, os projetos que tramitam no Congresso Nacional criando leis específicas para crimes cometidos na internet".
César explicou que as fraudes cibernéticas são agrupadas em dois grupos: o "próprio", que envolvem hackers, ataques a páginas eletrônicas e/ou roubo de informações digitais; e "impróprio", estelionato via internet, furtos e clonagem de cartões.
Bate-papo
Omar Jarouche, coordenador da área de estatística da ClearSale
Como atestar se uma compra pode ou não ser fraude?
A partir do cruzamento de dados, compartilhadas por grandes redes varejistas, conseguimos traçar um perfil do cliente. Através de informações pessoais e hábitos de consumo, como endereço para entrega ou preferência de compra em determinado estabelecimento, autenticamos ou não uma transação. É importante frisar que nosso trabalho não é encontrar o fraudador, e sim resguardar o bom cliente e minimizar possíveis prejuízos de quem está vendendo. Esse processo de averiguação é todo automatizado, considera mais de 250 variáveis, e leva alguns segundos para ser concluído.
E como funciona esse processo?
Imagine alguém que vai comprar pela internet e escolhe pagar com cartão de crédito. Ao mesmo tempo que o cliente recebe uma mensagem para confirmar a transação, os dados pessoais cadastrados pelo varejista são compartilhados com a ClearSafe. Funciona como uma grande 'rede social' privativa, onde só nós temos acesso a endereço, telefone, números de documentos, informações bancárias e perfil de consumo de cerca de 80% de todos os clientes que utilizam o E-commerce no Brasil. A segurança aumenta na medida que as informações são compartilhadas por grandes varejistas e companhias aéreas, por exemplo, dessa forma todos acabam se protegendo.
Mas o sistema não é 100% garantido?
Não, o foco do trabalho é preventivo. No mundo virtual, quem arca com o risco da fraude nas compras através de cartão de crédito é o lojista; diferente do mundo real, que precisa senha e que deveria ser solicitado documento com foto do cliente a cada compra, onde o risco é assumido pelo emissor do cartão.
Qual o procedimento quando uma possibilidade de fraude é detectada?
Fazemos tudo para não cancelar a compra antes de averiguar a autenticidade, mas se houver probabilidade de ser fraude informamos a loja e desviamos a transação para uma análise individual - onde, se for preciso, um analista entra em contato com o cliente para confirmar informações da compra.
Quais os principais produtos alvo de fraudes?
Quem comete esse tipo de crime não está querendo o produto em si, ele quer liquidez, dinheiro, e no mercado paralelo os produtos eletrônicos, jogos e calçados são mais fáceis de se transformar em dinheiro.
E quanto à segurança?
Muito se fala de clonagem de cartão, mas na internet não precisa de nenhum aparato sofisticado apenas do número. Se alguém copiar os números do cartão de crédito, ou mesmo fotografar o cartão já basta para iniciar uma tentativa de fraude.
Dicas
As recomendações mais comuns para evitar ser vítima de crimes virtuais ou clonagem de cartão são:
. desconfiar de mensagens suspeitas (bancos e Receita Federal, por exemplo, não enviam e-mails pedindo informações);
. utilizar caixas eletrônicos em locais de grande circulação, de preferência nos terminais instalados nas próprias agências bancárias;
. não informar dados bancários e senhas por telefone;
. quando realizar compras por telefone com cartão de crédito, dar preferência para empresas com experiência de mercado;
. guardar comprovantes de compras e ficar atento a qualquer cobrança indevida, por menor que seja, no extrato;
. assinar serviços oferecidos pelas administradoras de cartões de crédito, como envio de mensagens eletrônicas para celular a cada compra entre outros que garantem o cancelamento de compras indevidas.
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