quinta-feira, 17 de maio de 2012



Falha em freios causou colisão entre trens

Prefeitura disse que 103 pessoas foram para hospitais. Circulação do Metrô foi normalizada às 14h20FILIPE SANSONE E CAROL ROCHA 
FuturaPressDois trens do Metrô colidiram na manhã desta quarta deixando 103 feridosDois trens do Metrô colidiram na manhã desta quarta deixando 103 feridos

Uma colisão entre dois trens do Metrô em pleno horário de pico  levou 103 pessoas a hospitais, entre elas crianças, gestantes e idosos, sendo 31 com lesões leves e duas com ferimentos mais graves. O problema ocorreu às 9h50 entre as estações Penha e Carrão, na Linha 3-Vermelha (Corinthians/Itaquera/Barra Funda) devido a uma falha no sistema de freios do trem. É a primeira colisão ocorrida no Metrô em horário comercial.
 
O condutor acionou o sistema de emergência e conseguiu garantir que a batida fosse em uma velocidade menor. Passageiros contaram que a circulação já estava lenta antes do choque. A circulação dos trens só foi normalizada às 14h20.
 
Segundo o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, o acidente  foi provocado por uma falha no circuito eletrônico da linha, que é responsável pelo controle da velocidade dos trens.
 
Uma composição que pertence à Linha 1-Azul (Jabaquara/Tucuruvi) e estava vazia seguia do pátio de manutenção, na Estação Itaquera, até um dos pontos onde poderia voltar à sua linha. Assim que um outro trem da Linha Vermelha, que estava à frente dos outros dois, parou na Estação Carrão, o carro que seguia vazio parou automaticamente por um comando do sistema de controle (os trens na da Linha 3 são programados para manter um distância de 150 metros entre eles).
 
Nesse momento, a composição que vinha por último, e estava lotada de passageiros, deveria frear automaticamente. O sistema, entretanto, deu o comando de aceleração. O condutor dessa composição percebeu que havia algo de errado e acionou o botão de emergência para frear. Como a velocidade era alta, o trem ainda percorreu um trecho e, com uma velocidade calculada entre 9 km/h e 12 km/h, bateu no último vagão do carro vazio. 
Impacto forte/ O impacto foi suficiente para engatar os dois trens e jogar os passageiros para o chão. “Eu estava em uma área não tão cheia e, com o impacto, voei quase dois metros. Caí em cima de duas pessoas e pelo menos mais três caíram em cima de mim”, afirma o supervisor Robson Fernando Gomes da Silva, de 29 anos.
 
Após a colisão, a energia foi desligada e, por isso, ninguém conseguia abrir as portas. A solução foi quebrar os vidros e sair pela janela. “Eu apertei o botão de emergência, mas ele não funcionou”, afirma o técnico em comunicações Cleiton Vitor Lima, de 28 anos. “Mesmo antes da batida, anunciaram pelos alto-falantes que os trens operavam com velocidade reduzida, mas até aí tudo bem porque sempre acontece. Mas quando senti aquele baita tranco e a luz acabou, destruí uma janela com os pés e desci”, disse.
 
O Corpo de Bombeiros informou que 23 viaturas e 60 homens ajudaram no resgate das vítimas. Nos casos de maior gravidade foi necessário imobilizar aos passageiros e transportá-los em uma maca por cima do muro que separa a linha férrea da Radial Leste.
 

O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), da Secretaria Municipal de Saúde, levou 16 pessoas ao pronto-socorro do Hospital Tatuapé, na Zona Leste da capital.
 
Entre os feridos estava a desempregada Irene Hernandes Bianchi, de 54 anos, que trincou o braço. “Eu só fui sentir a dor no hospital”, disse.

Sindicato quer condutor nos trens da Linha 4 - Amarela
O sistema de funcionamento dos trens da Linha 3-Vermelha do Metrô, chamado de ATC (sigla em inglês que significa controle automático de trens), foi programado para que as composições mantenham uma distância de 150 metros entre si.  Ao se aproximar de outro trem, o sistema de freios é automaticamente acionado, evitando acidentes.
 
Segundo o Sindicato dos Metroviários, esse é o mesmo sistema que opera na Linha 1-Azul (Jabaquara/Tucuruvi). Já nas linhas 2-Verde (Vila Madalena/Vila Prudente) e 4-Amarela (Luz/ Butantã), o sistema de operação é o CBTU (sigla em inglês que significa controle automático de trens em bases de comunicação), que opera com uma distância de 70 metros. “O projeto é que essa distância seja reduzida para 30 metros. A possibilidade de que acidentes ocorram é maior”, diz o presidente do sindicato, Altino Prazeres Júnior. “A Linha Amarela opera na mesma distância que a Verde, mas não tem condutor. Isso é um risco muito grande”, afirma. O sindicato vai pedir que o Metrô coloque condutor na Linha Amarela.
 
“Nós vamos saber tudo pelos registros. O CCO (Centro de Controle Operacional) tem tudo gravado, tem o gráfico de velocidade, os tempos de parada, isso tudo nós vamos saber”, disse o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes.
 
Para o especialista em transportes Telmo Giolito Porto, o que aconteceu nesta quarta-feira é “surpreendente”. “O Metrô opera com sistema fail safe (falha segura). É o sistema usado em quase todos os metrôs do mundo”, diz. “Do ponto de vista sistêmico, a situação de hoje (quarta) é inexplicável”, afirma.

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