sexta-feira, 11 de maio de 2012

Carro das Vítimas é encontrado



Marco Carvalho - repórter

O veículo modelo Ford Fiesta de cor vermelha e placas MZJ-7579 foi encontrado durante a madrugada de ontem, na zona rural de São Gonçalo do Amarante. Guarnições do 11º Batalhão da Polícia Militar realizavam patrulhamento de rotina pelo local, quando o encontraram por volta da 1h desta quinta-feira. O carro financiado pertencia a Olga Cruz de Oliveira Lima e foi levado da sua residência na segunda-feira passada; oportunidade em que ela e a filha, Tatiana Cristina Cruz de Oliveira, foram torturadas e brutalmente assassinadas. A ausência do veículo na casa, somada à falta de outros objetos pessoais da família, reforçam a tese de que criminosos haviam invadido o local para realizar um assalto. A crueldade das mortes, no entanto, abre espaço para outras linhas de investigação.
Adriano AbreuCarro das vítimas foi encontrado totalmente depredadoCarro das vítimas foi encontrado totalmente depredado

A PM encontrou o carro na rua São Sebastião, no distrito de Santo Antônio dos Barreiros, em São Gonçalo do Amarante. As autoridades o encaminharam para a Delegacia de Plantão da zona Norte. Chamou atenção as avarias registradas no veículo. O parabrisas estilhaçado, assim como o vidro dianteiro direito. Os quatro pneus estavam furados e arranhões eram percebidos pela lataria. Ainda durante a manhã de ontem, equipes do Instituto Técnico-científico de Polícia (Itep) realizaram uma perícia em busca de vestígio deixados pelos criminosos.

O carro foi transferido e levado à sede da Delegacia-geral da Polícia Civil, no bairro de Cidade da Esperança. Durante o final da manhã de ontem, a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE esteve próximo ao carro e constatou as marcas de destruição. A bancada estava marcada com um pó de cor branca, provavelmente utilizado pelos criminosos para despistar a busca por vestígios. Forros e equipamentos plásticos estavam fora do lugar e outros utensílios do veículo se amontoavam no banco traseiro. 

O resultado do trabalho do Itep deve ser enviado à Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher, em Parnamirim. É a Deam, através da delegada Patrícia de Melo Gama, que conduz o inquérito cujo objetivo é esclarecer as circunstâncias da ocorrência registrada em Nova Parnamirim. Patrícia já havia negado anteriormente a informação de que o Ford Fiesta possuía placas clonadas. 

Ontem, a reportagem tentou contato com a delegada, mas não obteve sucesso. O objetivo era esclarecer se há vestígios preliminares rapidamente identificados, assim como conhecer o prazo para receber informações dos peritos. Outra dúvida diz respeito ao conteúdo das informações repassadas por vizinhos e familiares, que prestam depoimento na Deam desde a quarta-feira passada. Policiais militares, que foram os primeiros a chegarem à cena do crime, também informaram o que viram quando entraram na residência, durante a manhã da terça-feira passada.

O ex-companheiro de Tatiana Cruz, o contador português José Luiz Vaz Marques Rosa, 43 anos, será ouvido pelas autoridades policiais. Ele está detido no Centro de Detenção Provisória (CDP) em Macaíba, por ter cometido crimes fiscais no seu país de origem. Ele aguarda uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o pedido de extradição realizado pelo Governo de Portugal.

Equipes da Delegacia Especializada de Homicídios (Dehom) estão prestando apoio aos agentes da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher. Desde a constatação dos assassinatos, as investigações apontaram para duas hipóteses: latrocínio ou vingança. As mortes podem ter sido presenciadas por uma criança de 10 anos de idade. A menina é filha de Tatiana Cruz e foi vista deixando a casa após o registro dos assassinatos. Ainda abalada, a criança repassa informações confusas a familiares e vizinhos. 

A casa de três quartos ficou totalmente revirada e a menina teria relatado que os criminosos teriam roubado a televisão, o computador portátil, além de uma filmadora e jóias da família. As pessoas envolvidas fugiram da cena do crime utilizando o carro encontrado durante a madrugada de ontem.

Tatiana Cristina foi encontrada em um dos quartos da residência, com um tecido amarrando suas mãos. Na perna, cordas a amarravam a uma cadeira, que estava caída no chão. Sem mordaças. No pescoço, perfurações por arma branca e, pelo corpo, outras marcas de violência. Na mão esquerda, o dedo polegar quase amputado. A sua mãe estava na cozinha, com marcas semelhantes de violência e crueldade. Pelos cômodos da casa, sangue das vítimas, como se elas tivessem percorrido cada lugar, após as torturas, em busca de algo de valor.

"Depoimento sem dano" poderá auxiliar polícia

Uma forma de depoimento em que a criança se sinta confortável e possa relatar o que testemunhou. Devidamente orientada por um psicólogo e acompanhada remotamente por autoridades da Justiça e do Ministério Público. A maneira mais "produtiva" de se alcançar informações valiosas para a apuração de crimes que envolvem menores que ainda não tem a capacidade de discernir sobre o que viu, ouviu ou sentiu. As descrições compõem o programa "Depoimento sem dano", voltado para crianças envolvidas e afetadas por práticas criminosas. No Rio Grande do Norte, o programa funciona na Vara da Infância e Juventude da Comarca de Natal desde o ano de 2008 e tem se mostrado eficaz.

O "depoimento sem dano" pode vir a se tornar um meio de obtenção de informações em um caso de repercussão recente. Na segunda-feira passada, duas mulheres foram assassinadas no bairro de Nova Parnamirim e uma criança de 10 anos de idade pode ter visto toda a ação violenta de criminosos. Hoje, a menina repassa informações incoerentes à familiares e vizinhos, em virtude do impacto físico e emocional sofrido.

No RN, essa atividade é desenvolvida pela psicóloga Ana Andréa Maux. Ontem, à reportagem da TRIBUNA DO NORTE, ela esclareceu o funcionamento do programa e como isso poderia ser aplicado no caso de Nova Parnamirim. "Primeiro, precisa haver um acompanhamento psicológico e perceber quando a criança está emocionalmente aberta a falar sobre o trauma que sofreu. A Justiça e a polícia trabalham com rapidez para apontar os culpados, mas o tempo emocional é diferente", disse.

A profissional explicou que, caso a menina não esteja preparada, o resultado pode sair ao contrário do imaginado. Maux reforçou que, dentro das possibilidades, é necessário que a menina seja ouvida o mais rapidamente possível e a menor quantidade de vezes. "Se demorar muito, a memória pode acabar contaminada, até mesmo pelas histórias expostas publicamente", disse. A psicóloga esclareceu que a partir dos 7 anos de idade, os depoimentos realizados através de psicólogos costumam ser mais eficientes. Para ser aplicado no caso de Nova Parnamirim, o "depoimento sem dano" precisará passar por alterações. Atualmente, apenas casos que envolvem abuso sexual são atendidos pela atividade. Como o inquérito deve ser remetido a uma Vara Criminal, o depoimento poderá contar com o acompanhamento da psicóloga, porém, em um ambiente tradicional de audiência. 

Outra ressalva diz respeito ao momento de realização do depoimento da criança. O "depoimento sem dano" não ocorre na fase de inquérito policial e, sim, apenas durante a audiência já quando há um processo em andamento. Até lá, a polícia poderá tentar ouvir a criança pelos meios normais ou alcançar provas que não dependam da menina para a comprovação da autoria.

Português responde por 64 crimes fiscais

O ex-companheiro de Tatiana Cruz, o contador português José Luiz Vaz Marques Rosa, responde por 64 crimes, a maioria de natureza fiscal, cometidos no seu país de origem. Em virtude disso e a pedido da Justiça Portuguesa, o Supremo Tribunal Federal (STF) expediu um mandado de prisão preventiva expedido contra ele. Desde o mês de maio de 2011, está detido - sendo 11 meses na carceragem da Polícia Federal em Natal e outro mês na cela do Centro de Detenção Provisória (CDP) em Macaíba, onde está hoje. Durante a quarta-feira passada, a TRIBUNA DO NORTE o entrevistou. "Sou um cara pacato. A Olga e a Tatiana eram pessoas normais e não sei o que pode ter motivado esse crime. Pelo que vocês me disseram, não acredito em assalto. Elas não eram pessoas de posse", afirmou.

Ontem, a equipe de reportagem teve acesso à decisão da ministra do STF, Carmen Lúcia, que determina a prisão de José Luiz. No documento, assinado em 10 de maio de 2011, são esclarecidos a motivação para a detenção De acordo com a Justiça Portuguesa, o contador é responsável por cinco transgressões ao artigo 217 do Código Penal Português, além de outros 27 crimes tipificados no artigo 255, e 32 transgressões por falsificação agravada de documento. Os artigos 217, 255 e 256 também dizem respeito a "Quem, com intenção de obter para si ou para terceiro enriquecimento ilegítimo, por meio de erro ou engano sobre factos que astuciosamente provocou, determinar outrem à prática de actos que lhe causem, ou causem a outra pessoa, prejuízo patrimonal".

As penas variam entre um mês e seis anos de prisão para cada transgressão. O documento do STF, no entanto, não revela quanto o estrangeiro obteve de lucro por meio da prática de fraudes e sonegações. O homem aguarda decisão do Supremo sobre o pedido de extradição realizado pelo Governo de Portugal, ainda sem prazo para ocorrer. Apesar do histórico criminoso, José Luiz disse não possuir qualquer envolvimento no assassinato da ex-companheira. "Nunca faria uma coisa como essa. Estou à disposição para qualquer esclarecimento que for necessário", disse.

Repercussão: revolta e medo

A brutalidade que se tornou marca dos assassinatos da mãe e filha em Nova Parnamirim repercutiu em todo o Rio Grande do Norte e causou sentimentos de comoção, revolta e medo. A tortura praticada por criminosos antes das mortes chamou atenção até mesmo de autoridades da segurança pública, acostumadas a presenciar cenários de violência. Ontem, já não havia tantas pessoas nas calçadas das casas assistindo à movimentação da polícia e veículos de imprensa que voltavam ao local do crime. Viaturas da Deam retornaram à rua Antônio Lopes Chaves, para colher informações de vizinhos. Os moradores permanecem intrigados com os indícios encontrados na cena do crime e, assim como a polícia, dividem-se em teses de latrocínio e crime de vingança. Além disso, os vizinhos estão preocupados com os mais de 15 cães existentes na residência 464. O latido incessante incomoda e demonstra sofrimento por parte dos animais, possivelmente em virtude da fome que sentem.

FONTE;tribuna do norte

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