Sem médicos, maternidades suspendem partos
Alex Costa - repórter
Os atendimentos da Maternidade e Pronto Atendimento Professor Leide Morais, conhecido como Hospital da Mulher, foram suspensos desde as 7 horas da manhã de ontem. Mesmo antes do início da paralisação dos profissionais da Cooperativa dos Médicos, que começa hoje, a ala de internamento e o pronto atendimento ginecológico e obstétrico deixaram de funcionar em função da falta de médicos do município para compor a escala. "A paralisação da Coopmed é apenas mais um complemento da crise que já estava instalada no hospital", informou um funcionário do Leide Morais, que preferiu não se identificar.
Além do Hospital da Mulher, a Maternidade de Felipe Camarão também suspendeu ontem os serviços pelos mesmo motivos. Das unidades municipais que realizam atendimentos obstetrícios, apenas a Maternidade das Quintas ainda resiste e mantém os serviços, mas a escala com médicos do município só irá atender até o próximo dia 19.
Na manhã dessa terça-feira, a reportagem da TRIBUNA DO NORTE visitou o Hospital da Mulher, na avenida das Fronteiras, zona Norte de Natal, e acompanhou o drama de algumas pacientes que procuravam o serviço de obstetrícia da unidade. A adolescente Vanessa Nascimento, de 14 anos, deu à luz ao pequeno Wesley na semana passada, por meio de uma cirurgia de cesariana feita na unidade de saúde. Recebendo orientação para voltar em uma semana para realizar o teste do pezinho, a má notícia. "Simplesmente não tem ninguém para realizar esse exame no hospital. Eu vim de longe, estou cirurgiada do parto e não tenho dinheiro para gastar com táxi. Não sei o que fazer agora", desabafou Vanessa, que mora no Gramorezinho e precisa andar alguns quilômetros para pegar um ônibus.
Outra que recorreu ao Hospital da Mulher foi Cristina Pinheiro da Silva, de 32 anos. Perdendo sangue há quatro dias, a vendedora de cosméticos estava na manhã de ontem na unidade para realizar uma ultrassonografia. "Não estão fazendo porque não tem profissional para me atender e prestar esse serviço. Mandaram-me para o Hospital Santa Catarina", informou.
A jovem Edvânia Lima, de 22 anos, já vinha de uma jornada difícil quando chegou no pronto atendimento do Leide Morais. Diagnosticada como um princípio de aborto na Maternidade Escola Januário Cicco, em Petrópolis, a jovem foi de ônibus para a unidade da Zona Norte. "Na Januário Cicco não tem máquina para realizar a ultrassonografia. Aqui no Hospital da Mulher não tem o profissional para operar a máquina. Enquanto isso eu fico rodando e colocando a minha vida e a do meu filho em risco", lamentou.
Edvânia decidiu ir para o Santa Catarina. A reportagem acompanhou a ida da paciente até a unidade estadual e constatou que a ultrassonografia foi negada, em virtude do médico "não achar necessário nem urgente a realização do exame". "Ele disse que quando eu piorasse eu voltasse. O jeito vai ser fazer no particular", disse a jovem.
Atendimento é precário nas Quintas
No Hospital Santa Catarina, a demanda de pacientes que necessitam realizar intervenções obstétricas ou ginecológicas ainda não sentiu o efeito da paralisação da Coopmed. De acordo com o diretor administrativo do hospital, Carlos Leão, esse aumento será sentido a partir de hoje. "Nós já atendemos a demanda de partos de vários municípios vizinhos, como Extremoz e São Gonçalo do Amarante, principalmente. Quem vem de outras maternidades ou unidades hospitalares acaba sendo atendido aqui. Sempre damos um jeito", assegurou o gestor do hospital estadual.
De acordo com a diretora da Maternidade das Quintas, Aloma Tereza Fonseca, a demanda aumentou consideravelmente na manhã de ontem. Segundo as estatísticas da unidade, o número médio de atendimentos durante das 24 horas é de aproximadamente 31. Apenas na manhã de ontem, a unidade já havia atendido 30 pacientes para obstetrícia. Os 30 leitos da maternidade das Quintas começam a não dar conta da demanda de partos que começam a surgir com cada vez mais frequência.
A TRIBUNA DO NORTE flagrou uma paciente grávida deitada num banco de pedra à entrada da maternidade. Katarine Oliveira, de 24 anos, aguardava atendimento desde as 7h da manhã e já havia perdido sangue. Ao meio-dia, a jovem ainda ia ser atendida para ser encaminhada para o setor pré-parto. "Quando cheguei aqui a quantidade de mulheres era bem elevado. Tanto que estou esperando até agora para ser atendida", disse.
Segundo a direção da unidade, apenas três leitos fazem parte do setor de pré-parto, onde as mulheres são preparadas e a quantidade de leitos para internamento, caso haja necessidade, muitas vezes não é suficiente. "A gente acaba tendo que mandar uma mãe embora mais cedo para que a cama seja desocupada e outra pessoa possa utilizar", explicou Aloma.
JANUÁRIO CICCO
Sob controle. De acordo com informações declaradas pelo diretor da Maternidade Escola Januário Cicco, Kleber Morais, a situação da UTI Neonatal é estável. Após um surto de bactérias do tipo "pseudomona", comum em infecções hospitalares, em três crianças na semana passada, o setor ainda não foi reaberto. "Estamos aplicando os antibióticos no setor, os quais ainda não foram negativados", explicou o diretor.
Segundo Kleber, apenas após a total eliminação dos micro-organismos do setor é que voltará a receber pacientes. "Estamos conseguindo lidar com a demanda de prematuros e bebês que dependem da UTI. Estão sendo tratados aqui mesmo, no centro cirúrgico", disse.
Uma das explicações possíveis para o possível surto de bactérias na Maternidade é, nas palavras do seu diretor, a superlotação. "Nós atuamos acima da nossa capacidade. A Maternidade está sempre superlotada, então ficamos sujeitos a situações como essa. A saúde da Mulher no estado está precária e os gestores precisam atentar para essa situação o mais rápido possível", disse, fazendo questão de ressaltar que o atendimento no restante da Maternidade acontece normalmente.
Proposta é rejeitada e paralisação começa hoje
Na tarde de ontem, a secretária municipal de Saúde, Maria do Perpétuo Socorro, convocou a liderança da Cooperativa dos Médicos para apresentar uma contraproposta visando a não paralisação dos serviços. De acordo com a gerente administrativa da Coopmed, Cleide Fernandes, a proposta consistia no recebimento da parcela referente ao mês de maio na próxima sexta-feira, o mês de junho no dia 21 de setembro e o mês de julho no dia 10 de outubro. "Não foi apresentada nenhuma proposta com relação ao mês que já começa a vencer, agosto", afirmou.
De acordo com Cleide, a proposta do município é inviável e a paralisação será mantida. "Convocaremos uma assembleia para a próxima quinta-feira para discutir o que iremos fazer nas próximas semanas e como iremos proceder durante a paralisação. Não há o que fazer senão pagar a dívida, tendo em vista que o quadro municipal é muito deficitário", alegou, reclamando que apenas na véspera do anúncio da paralisação da secretaria decidiu se pronunciar e convocar uma negociação.
Após a reunião com a Coopmed, a titular da SMS se reuniu com os diretores dos distritos de saúde e pronto-atendimentos do município, para ver se conseguia puxar a escala do mês seguinte para manter o nível de atendimentos. Segundo um dos diretores, que não quis se identificar, não será possível puxar a escala, tendo em vista que os médicos municipais já cumpriram sua carga horária mensal em muitas unidades.
No local, a reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou falar pessoalmente com a titular da SMS, tendo em vista que as ligações telefônicas não eram retornadas. Após duas horas de espera, aguardando a finalização da reunião com os diretores das unidades hospitalares, batemos na porta da sala várias vezes seguidas e aguardamos retorno, sem sucesso.
Os atendimentos da Maternidade e Pronto Atendimento Professor Leide Morais, conhecido como Hospital da Mulher, foram suspensos desde as 7 horas da manhã de ontem. Mesmo antes do início da paralisação dos profissionais da Cooperativa dos Médicos, que começa hoje, a ala de internamento e o pronto atendimento ginecológico e obstétrico deixaram de funcionar em função da falta de médicos do município para compor a escala. "A paralisação da Coopmed é apenas mais um complemento da crise que já estava instalada no hospital", informou um funcionário do Leide Morais, que preferiu não se identificar.
Adriano AbreuVanessa Nascimento não conseguiu fazer o exame indicado para seu bebê no Hospital da Mulher
Além do Hospital da Mulher, a Maternidade de Felipe Camarão também suspendeu ontem os serviços pelos mesmo motivos. Das unidades municipais que realizam atendimentos obstetrícios, apenas a Maternidade das Quintas ainda resiste e mantém os serviços, mas a escala com médicos do município só irá atender até o próximo dia 19.
Na manhã dessa terça-feira, a reportagem da TRIBUNA DO NORTE visitou o Hospital da Mulher, na avenida das Fronteiras, zona Norte de Natal, e acompanhou o drama de algumas pacientes que procuravam o serviço de obstetrícia da unidade. A adolescente Vanessa Nascimento, de 14 anos, deu à luz ao pequeno Wesley na semana passada, por meio de uma cirurgia de cesariana feita na unidade de saúde. Recebendo orientação para voltar em uma semana para realizar o teste do pezinho, a má notícia. "Simplesmente não tem ninguém para realizar esse exame no hospital. Eu vim de longe, estou cirurgiada do parto e não tenho dinheiro para gastar com táxi. Não sei o que fazer agora", desabafou Vanessa, que mora no Gramorezinho e precisa andar alguns quilômetros para pegar um ônibus.
Outra que recorreu ao Hospital da Mulher foi Cristina Pinheiro da Silva, de 32 anos. Perdendo sangue há quatro dias, a vendedora de cosméticos estava na manhã de ontem na unidade para realizar uma ultrassonografia. "Não estão fazendo porque não tem profissional para me atender e prestar esse serviço. Mandaram-me para o Hospital Santa Catarina", informou.
A jovem Edvânia Lima, de 22 anos, já vinha de uma jornada difícil quando chegou no pronto atendimento do Leide Morais. Diagnosticada como um princípio de aborto na Maternidade Escola Januário Cicco, em Petrópolis, a jovem foi de ônibus para a unidade da Zona Norte. "Na Januário Cicco não tem máquina para realizar a ultrassonografia. Aqui no Hospital da Mulher não tem o profissional para operar a máquina. Enquanto isso eu fico rodando e colocando a minha vida e a do meu filho em risco", lamentou.
Edvânia decidiu ir para o Santa Catarina. A reportagem acompanhou a ida da paciente até a unidade estadual e constatou que a ultrassonografia foi negada, em virtude do médico "não achar necessário nem urgente a realização do exame". "Ele disse que quando eu piorasse eu voltasse. O jeito vai ser fazer no particular", disse a jovem.
Atendimento é precário nas Quintas
No Hospital Santa Catarina, a demanda de pacientes que necessitam realizar intervenções obstétricas ou ginecológicas ainda não sentiu o efeito da paralisação da Coopmed. De acordo com o diretor administrativo do hospital, Carlos Leão, esse aumento será sentido a partir de hoje. "Nós já atendemos a demanda de partos de vários municípios vizinhos, como Extremoz e São Gonçalo do Amarante, principalmente. Quem vem de outras maternidades ou unidades hospitalares acaba sendo atendido aqui. Sempre damos um jeito", assegurou o gestor do hospital estadual.
De acordo com a diretora da Maternidade das Quintas, Aloma Tereza Fonseca, a demanda aumentou consideravelmente na manhã de ontem. Segundo as estatísticas da unidade, o número médio de atendimentos durante das 24 horas é de aproximadamente 31. Apenas na manhã de ontem, a unidade já havia atendido 30 pacientes para obstetrícia. Os 30 leitos da maternidade das Quintas começam a não dar conta da demanda de partos que começam a surgir com cada vez mais frequência.
A TRIBUNA DO NORTE flagrou uma paciente grávida deitada num banco de pedra à entrada da maternidade. Katarine Oliveira, de 24 anos, aguardava atendimento desde as 7h da manhã e já havia perdido sangue. Ao meio-dia, a jovem ainda ia ser atendida para ser encaminhada para o setor pré-parto. "Quando cheguei aqui a quantidade de mulheres era bem elevado. Tanto que estou esperando até agora para ser atendida", disse.
Segundo a direção da unidade, apenas três leitos fazem parte do setor de pré-parto, onde as mulheres são preparadas e a quantidade de leitos para internamento, caso haja necessidade, muitas vezes não é suficiente. "A gente acaba tendo que mandar uma mãe embora mais cedo para que a cama seja desocupada e outra pessoa possa utilizar", explicou Aloma.
JANUÁRIO CICCO
Sob controle. De acordo com informações declaradas pelo diretor da Maternidade Escola Januário Cicco, Kleber Morais, a situação da UTI Neonatal é estável. Após um surto de bactérias do tipo "pseudomona", comum em infecções hospitalares, em três crianças na semana passada, o setor ainda não foi reaberto. "Estamos aplicando os antibióticos no setor, os quais ainda não foram negativados", explicou o diretor.
Segundo Kleber, apenas após a total eliminação dos micro-organismos do setor é que voltará a receber pacientes. "Estamos conseguindo lidar com a demanda de prematuros e bebês que dependem da UTI. Estão sendo tratados aqui mesmo, no centro cirúrgico", disse.
Uma das explicações possíveis para o possível surto de bactérias na Maternidade é, nas palavras do seu diretor, a superlotação. "Nós atuamos acima da nossa capacidade. A Maternidade está sempre superlotada, então ficamos sujeitos a situações como essa. A saúde da Mulher no estado está precária e os gestores precisam atentar para essa situação o mais rápido possível", disse, fazendo questão de ressaltar que o atendimento no restante da Maternidade acontece normalmente.
Proposta é rejeitada e paralisação começa hoje
Na tarde de ontem, a secretária municipal de Saúde, Maria do Perpétuo Socorro, convocou a liderança da Cooperativa dos Médicos para apresentar uma contraproposta visando a não paralisação dos serviços. De acordo com a gerente administrativa da Coopmed, Cleide Fernandes, a proposta consistia no recebimento da parcela referente ao mês de maio na próxima sexta-feira, o mês de junho no dia 21 de setembro e o mês de julho no dia 10 de outubro. "Não foi apresentada nenhuma proposta com relação ao mês que já começa a vencer, agosto", afirmou.
De acordo com Cleide, a proposta do município é inviável e a paralisação será mantida. "Convocaremos uma assembleia para a próxima quinta-feira para discutir o que iremos fazer nas próximas semanas e como iremos proceder durante a paralisação. Não há o que fazer senão pagar a dívida, tendo em vista que o quadro municipal é muito deficitário", alegou, reclamando que apenas na véspera do anúncio da paralisação da secretaria decidiu se pronunciar e convocar uma negociação.
Após a reunião com a Coopmed, a titular da SMS se reuniu com os diretores dos distritos de saúde e pronto-atendimentos do município, para ver se conseguia puxar a escala do mês seguinte para manter o nível de atendimentos. Segundo um dos diretores, que não quis se identificar, não será possível puxar a escala, tendo em vista que os médicos municipais já cumpriram sua carga horária mensal em muitas unidades.
No local, a reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou falar pessoalmente com a titular da SMS, tendo em vista que as ligações telefônicas não eram retornadas. Após duas horas de espera, aguardando a finalização da reunião com os diretores das unidades hospitalares, batemos na porta da sala várias vezes seguidas e aguardamos retorno, sem sucesso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário