sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Entretenimento.

Com cinco indicações ao Oscar, filme estreia hoje,Remake,Rolywoodiano.

Um filme cercado de expectativas. ‘Remake’ holywoodiano do sueco dirigido por Niels Arden Oplev, “Os homens que não amavam as mulheres” tem David Fincher (“Clube da luta”, “A rede social”) como diretor e o ‘007’ Daniel Craig como protagonista, ao lado da atual queridinha dos fashionistas Rooney Mara.

A expectativa era grande, e foi compartilhada por mim. Li o livro que deu origem ao filme, a primeira parte da trilogia Millennium criada pelo jornalista Stieg Larsson. Famoso pelo seu engajamento com questões políticas na Suécia e na luta pelos direitos humanos num país onde, segundo as estatísticas, 46% das mulheres já foram ou serão vítimas da violência, Larsson escreveu uma saga que gira em torno de uma jovem perturbada.

Ela é Lisbeth Salander, que desde os 12 anos vive sobre a custódia do governo e desenvolveu – por uma questão de sobrevivência até – uma ‘persona’ obscura, com um interior furioso e um exterior gélido. Tatuada, cheia de piercings e adepta da estética punk, ela é o centro da narrativa. O seu co-protagonista, Mikael Blomkvist, seria o alter -ego do autor, um jornalista econômico respeitado, diretor da revista Millennium, que sofreu um revés após uma investigação ter resultado num processo por calúnia e difamação.

Larsson esteve à frente da revista Expo, onde denunciou organizações neofascistas e racistas. Ele morreu em 2004, aos 50 anos, pouco antes de entregar aos editores a trilogia que se tornou best seller e posteriormente ganhou as telas dos cinemas. Tanto no livro quanto na produção sueca de 2009, acompanhamos Mikael em seu julgamento e em dois encontros que mudarão seu destino: primeiro, com o empresário Henrik Vanger, que o contrata para tentar desvendar um caso de desaparecimento/assassinato de sua sobrinha Harriet. Detalhe – o fato ocorreu há 40 anos.

O jornalista aceita apenas por acreditar que Vanger pode lhe ajudar a recuperar sua reputação. A investigação acaba o levando ao encontro de Salander, que trabalha como hacker numa empresa de segurança e investigou o próprio Mikael. Juntos - unindo o faro jornalístico e poder de dedução de um ao conhecimento em informática e habilidade para descobrir os segredos mais sujos do outro - eles se envolvem numa intrincada teia de sexo, perversão e nazismo.

Tendo esse enredo em mãos, Fincher buscou acelerar mais algumas coisas, tornar a dinâmica da narrativa mais palatável ao público americano. E acerta, a principio. Karen O cantando “Immigrant Song” do Led Zeppelin durante a abertura cheia de efeitos e recursos gráficos, com personagens sendo inundados por um líquido preto, queimados e transformados em flor – a la aberturas de OO7 – anuncia: esse é um filme hardcore.

Trilha alucinante e ruas geladas

O clima nórdico, frio e pouco amistoso logo se instala, com os tons do filme indo do bege ao cinza, e claro, muito preto. Trent Reznor (do grupo Nine Inch Nails) continua respondendo pela trilha sonora, ao lado de Atticus Ross. Eu estava acreditando que a adaptação era muito boa, até que os acontecimentos começam a se atropelar, como se o diretor quisesse, por volta de 1h30 de projeção do filme, explicar tudo ao mesmo tempo, antes que ficasse longo demais. Os créditos de encerramento sobem e o filme fecha com 2 horas e 40 minutos de duração. Craig se esforça para tornar verossímel o drama de seu personagem, e consegue em alguns momentos passar a angústia de Mikael por ver sua carreira arruinada, ou mesmo por se encontrar isolado da revista e de Erika (Robin Wright), na distante ilha e Hedebyon.

A Lisbeth Salander de Rooney Mara me deixou intrigada. Ela se apropriou tanto da personagem, que realmente tornou-se uma transmutação física e emocional da mesma. Comparativamente ao trabalho da sueca Noomi Rapace no filme original, são composições bem diferentes e competentes, que conseguem manter a ‘garota da tatuagem de dragão’ como a coisa mais interessante de Millennium. No entanto, demora um tempo maior do que o usual - que não segue a cartilha do thrillher eficiente - para que o enredo ganhe um ritmo que capte a atenção. Faltou ousadia do roteirista Steven Zaillian (responsável pelo script de “Gangues de Nova York” e “O Gangster”) e de Fincher.

Quando os protagonistas passam a compartilhar do mesmo espaço-tempo na tela, o filme tem tudo para engrenar com o conflito entre personalidades e métodos de trabalho que coincidem para solucionar o caso e dar andamento a história. Mas é justamente aí que ele desanda totalmente, dando uma conclusão simplista ao mistério de Harriet e as motivações que fizeram de um homem aparentemente equilibrado, um assassino. Fincher deixar uma fagulha meio deprimente para a sequência – que se chamará “A menina que brincava com fogo” e deve ser dirigida por ele -, colocando Mikael numa posição confortável perante seu inimigo e humanizando além da conta Lisbeth, forçando o público a acreditar que a anti-social heroína se apaixonou por seu parceiro e que se trata de mais um filme de ação hollywoodiano onde tudo dará certo no final.(Diário do Pará)

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