segunda-feira, 4 de março de 2013

Começa hoje o julgamento do goleiro Bruno



O júri será presidido por Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, uma magistrada de pulso firme que, desde o início do processo, em junho de 2010, enfrentou acusações e provocações, feitas pelos advogados dos réus, de que estaria agindo de forma parcial, pré-julgando o atleta e os outros envolvidos. Dezenas de pedidos para que ela fosse afastada, ou o júri transferido para outra comarca, foram feitos pelos defensores, mas nem a própria juíza, muito menos o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) e o Supremo Tribunal Federal (STF) acataram as reivindicações. 
Bruno e a ex-mulher dele, Dayanne do Carmo, sentam no banco dos réus
Bruno e a ex-mulher dele, Dayanne do Carmo, sentam no banco dos réus
Sete cidadãos comuns serão escolhidos para formar o conselho de sentença e decidir se Bruno e Dayanne são culpados ou não. De um lado, caberá ao promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos de Castro provar que Eliza foi morta numa trama macabra a mando de Bruno. De outro, estarão encarregados de desqualificar as acusações do Ministério Público os advogados Francisco Simin, que defende Dayanne, e Lucio Adolfo, que representa Bruno. Lucio Adolfo é um dos mais experientes advogados criminalistas do País. Ele participou de mais de mil júris e já teve entre seus clientes o megatraficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
Ao contrário do primeiro julgamento do caso, em novembro do ano passado, quando ainda havia a dúvida se Eliza havia sido morta ou não, desta vez Bruno e Dayanne enfrentarão o que pode se chamar de fogo amigo: a confissão do ex-braço-direito do atleta, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão.  
No depoimento que deu no júri em que saiu condenando a 15 anos de cadeia, Macarrão contou que levou a modelo para a morte e a entregou a um homem que faria o serviço na noite do dia 10 de junho de 2010. Segundo Macarrão, por ordem de Bruno, que o chamava de "bundão" caso não fizesse o que o atleta estava pedindo: "Eu sou p... deixa comigo", teria dito Bruno ao ex-amigo. Além de Macarrão, a outra ex-amante de Bruno, Fernanda Gomes Castro, também foi condenada no primeiro julgamento do caso. Ela cumpre cinco anos de prisão no regime aberto pelo sequestro e cárcere privado de Eliza e Bruninho. 
Ao assumir o crime, acusando Bruno de ser o mandante da morte de Eliza e também, por consequência, "de ter acabado com a vida dele", como lamentou, Macarrão causou surpresa. Ele, no entanto, estaria apenas cumprindo parte do acordo que teria feito com o assistente de acusação José Arteiro Cavalcante Lima. Um dia antes da confissão, Arteiro deu várias entrevistas antecipando que Macarrão iria acusar o ex-amigo para tentar diminuir a pena. O advogado de defesa de Macarrão, Leonardo Diniz, e o promotor de Justiça Henry Castro, disseram na época desconhecer qualquer acordo. 
Agora, o depoimento de outro importante personagem na trama deverá ser o elo que falta para esclarecer todas as dúvidas que ainda pairam sobre como Eliza Samudio morreu, segundo a polícia, executada pelo ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. Jorge Luiz Rosa, primo de Bruno, foi a pessoa que esteve com Eliza e Macarrão desde o momento em que a modelo foi sequestrada em um hotel no Rio de Janeiro, no dia 4 de junho de 2010, até a hora que foi estrangulada por Bola, seis dias depois, de acordo com as investigações. 
Na época, Rosa tinha 17 anos. Foi detido depois que um tio procurou uma rádio do Rio de Janeiro dizendo que o sobrinho estava "apavorado" com o crime que presenciara. De acordo com o processo judicial, Rosa afirmou em depoimento ter visto Eliza ser morta. O adolescente ainda teria contado os detalhes do crime, citando os "olhos esbugalhados" da vítima e afirmando que uma das mãos da vítima fora jogada aos cães da raça Rotweiller que Bola criava.  
Por ser menor de idade na ocasião, Jorge Luiz Rosa foi condenado a três anos de internação, pena da qual cumpriu um ano e dois meses. Depois de solto, foi incluído no programa de proteção à testemunha do governo federal, de onde saiu, segundo o ex-advogado dele, Eliézer Jonatas de Almeida, "por vontade própria". 
Em recente e confusa entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, na qual chegou a pedir para refazer algumas respostas, Rosa negou que tivesse visto a modelo ser morta. O rapaz afirmou que foi Macarrão quem contou a ele que ela foi executada. Perguntado sobre o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o primo de Bruno gaguejou e disse não conhecer Bola, assim como fez Macarrão no momento que confessou o crime no julgamento de novembro do ano passado. Tanto Jorge Luiz Rosa quanto Macarrão disseram apenas que Eliza foi entregue a um homem, o qual não sabiam a identidade.
Para o promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos Castro, a entrevista de Jorge Luiz Rosa foi uma tentativa dos advogados de defesa para jogar toda a culpa do crime em Macarrão, já condenado, e assim diminuir a pena de Bruno. O ex-advogado de Jorge disse desconhecer qualquer pressão sobre o rapaz, mas o aconselhou, em entrevista ao Terra, que Rosa "seja homem" para comparecer e contar o que sabe. "Ele não foi homem suficiente para dar uma entrevista dessas em rede nacional? De cara limpa? Agora ele que enfrente", concluiu o advogado, explicando também que, como foi intimado e não está sob a custódia do Estado, Jorge Luiz Rosa deverá ir até o Fórum de Contagem sozinho.
Medo e novos personagens 
Tanto Macarrão quanto Jorge Luiz Rosa já disseram que Eliza foi, de fato, assassinada. A principal dúvida ainda é sobre o autor do homicídio, já que os dois afirmaram que a modelo foi entregue a um homem e, a partir daí, não mais a viram. Para o promotor de Justiça de Contagem, Macarrão e Rosa não acusam diretamente o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, "por medo". 
Os advogados que representam Bola são contundentes em afirmar que ele não matou Eliza. Fernando Magalhães e Ércio Quaresma dizem que o cliente foi vítima de uma armação da polícia, que o incriminou devido à desavenças antigas entre Bola e o delegado Edson Moreira, ex-chefe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. Moreira já negou essa versão e ainda afirmou que as provas da participação do ex-policial são fartas.
Além de Bola, outros dois policiais civis também já foram investigados pela morte de Eliza, sendo que um deles, José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, foi denunciado pelo MP em dezembro do ano passado. A Justiça ainda não analisou a denúncia. O outro policial civil investigado recentemente em um inquérito paralelo pela própria corporação, a pedido do MP, é Gilson Costa, ex-integrante do Grupo de Resposta Especial da Polícia Civil (GRE), extinto em 2010 após denúncias de que Bola, mesmo excluído da corporação, dava treinamentos aos integrantes do grupo.
O julgamento de Bola está marcado para o dia 22 de abril, também no Fórum de Contagem. Além dele, ainda vão sentar no banco dos réus os amigos de Bruno Wemerson Marques de Souza, o Coxinha; e Elenilson Vitor da Silva. O júri dos dois ainda não tem data marcada.
O caso Bruno
Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola seriam levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.
No dia 19 de novembro de 2012, foi dado início ao julgamento de Bruno, Bola, Macarrão, Dayanne e Fernanda. Dois dias depois, após mudanças na defesa do goleiro, o tribunal decidiu desmembrar o processo. Bruno será julgado em março junto a outros dois acusados: o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que é acusado como autor do homicídio, e Dayane Rodrigues do Carmo, ex-mulher do goleiro e acusada de ser cúmplice no crime.
No dia 22 de novembro de 2012, durante depoimento de cinco horas, Macarrão responsabilizou Bruno pelo sumiço de Eliza. Dois dias depois, o júri condenou Luiz Henrique Romão, o Macarrão, a 15 anos de prisão, e Fernanda Gomes de Castro a cinco anos.
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