domingo, 24 de junho de 2012


"Precisamos apenas de projetos" afirma o presidente da Emprotur



Andrielle Mendes - repórter
Aldair DantasPresidente da Emprotur, Sandro Pacheco, falou dos novos desafiosPresidente da Emprotur, Sandro Pacheco, falou dos novos desafios

Uma reunião extraordinária dos membros do Conselho de Administração da Empresa Potiguar de Promoção Turística (Emprotur), realizada em 4 de junho, oficializou mudanças no comando da empresa, com a eleição do administrador Sandro Pacheco, para a presidência, e a destituição - a pedido - do empresário e ex-secretário de Turismo do Rio Grande do Norte, Ramzi Elali. Com mandato até 4 de junho de 2014, mês em que começará a Copa do Mundo do Brasil, tendo Natal como uma das sedes, Sandro Pacheco assume com um grande desafio: divulgar o Rio Grande do Norte no mercado local, nacional e internacional com um orçamento mínimo. Quando chegou à Emprotur, ele, ex-secretário adjunto de turismo de Natal, encontrou a casa arrumada e nenhum recurso. Este ano, a empresa dispôs de R$ 2 milhões para divulgação. De acordo com Sandro, seriam necessários, pelo menos, R$ 1 milhão por mês. O Governo do Estado, que até o início do ano queria extinguir a Empresa, destinou mais R$ 4 milhões - extraorçamento - a ela no primeiro semestre e se comprometeu a liberar mais no segundo. Sandro espera o recurso e já se movimenta. Há pouco mais de quinze dias no cargo, visitou feiras, participou de treinamento com a Embratur e se reuniu com parlamentares potiguares. Para as próximas semanas, planeja uma visita à Infraero. Ele quer entender por que Natal é a cidade-sede da Copa com o menor número de voos diários e encontrar uma alternativa para aumentar este número. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, por telefone, afirmou que ainda está tomando pé da situação, mas que já sabe o que vai fazer para executar os projetos: "Buscar recursos em fontes diferentes".

Em que estado encontrou a Emprotur? 
Com as contas de custeio todas em dia. Mas o orçamento previsto para este ano havia sido praticamente todo utilizado. Vamos precisar de mais recursos para cumprir algumas obrigações.

Que tipo de obrigações?
Relacionadas à divulgação. Os valores destinados este ano foram muito pequenos. Tanto que a governadora, no primeiro semestre, destinou mais R$ 4 milhões para divulgação. A divulgação está sendo feita toda pela secretaria de comunicação. 

O senhor comentou que o valor destinado à Emprotur foi pequeno. De quanto foi o orçamento este ano?    
Não tenho o número exato, mas sei que foi algo em torno de R$ 2 milhões. 

Deste total, quanto já foi utilizado?
Praticamente tudo. E ainda há muita coisa para pagar. Estamos aguardando que a Secretaria de Planejamento pague as feiras que ainda estão em aberto.

Então ainda tem feiras que não foram pagas?
Sim. Mas trata-se de um procedimento normal.

Então vocês não dispõem de quase nenhum recurso para desenvolver atividades ao longo ano...
Algumas emendas parlamentares foram feitas no ano passado para o orçamento deste ano. Os recursos ainda estão disponíveis no Ministério do Turismo. Precisamos apenas de projetos. Há recursos tanto para investir em promoção nacional como na Europa. Estou trabalhando nisso. A ponte já existe: são as emendas parlamentares.

Para desempenhar bem o seu papel, a Empresa precisaria de quanto, pelo menos?
Olhe, se a governadora repassasse cerca de R$ 1 milhão por mês faríamos um bom trabalho. Natal e o RN são fáceis de vender.

A governadora pensou em extinguir a Emprotur no início do mandato. O que, na sua opinião, justifica a manutenção da Empresa?
A governadora se sensibilizou com o apelo dos empresários do setor e permitiu que a Empresa continuasse. A empresa é mais ágil na execução das ações de divulgação. Secretaria Estadual de Turismo e Emprotur são  estruturas distintas. A secretaria atua na gestão das politicas e a Emprotur na divulgação.  

Ramzi Elali, ex-secretário estadual de Turismo e ex-presidente da Emprotur, comentou que a Empresa precisaria de uma 'nova roupagem'. Caberá ao senhor fazer isso. O que planeja?
Quero mudar a estratégia. Estou tentando montar uma estrutura para monitorar o mercado. Já estou realizando um levantamento de nossa malha aérea. Monitorando os mercados, tenho como saber se há queda nas vendas em determinada cidade. E se perceber queda, posso, junto com os empresários do setor, fazer um investimento preventivo. Não quero ser passivo. Não quero apenas aguardar o  calendário das feiras e só ir para determinado destino quando a feira se estabelecer lá. Essa é a roupagem diferente. A Emprotur tem uma vantagem sobre a secretaria estadual de Turismo. Se o repasse do governo for constante, vamos ter sempre recursos em caixa. Seguiremos a lei das licitações, mas não precisaremos aguardar a liberação da secretaria de planejamento. Contrato e no mesmo instante pago - isso nos dá um poder de barganha maior e nos torna mais ágeis.

A 'nova roupagem' na verdade seria essa nova postura adotada pela presidência...
É o meu desejo. Estou em contato com as principais operadoras de viagens do país para ver se me informam como estão as vendas nos locais que enviam passageiros para Natal. Se perceber que caíram, procurarei a operadora e encontraremos uma forma de divulgar melhor nosso destino. O monitoramento garantirá agilidade na execução de ações preventivas.

A solução, assim que constatado um problema, será mais divulgação? 
Isso mesmo. Já tomei conhecimento das emendas parlamentares. Vou reunir as entidades do setor e discutir as prioridades para começar a elaborar os projetos.

Quando o ex-presidente da Emprotur, Hamzi Elali, falou em 'nova roupagem', pensei que haveria redução de cargos. O próprio Hamzi comentou que a estrutura precisaria ficar mais 'enxuta'.
Pode-se pensar nisso. Estou há pouco mais de 15 dias no cargo. Vou avaliar isso direito. Se for o caso, sugiro esta mudança. Ainda estou tomando pé da situação.

O secretário estadual de Turismo e o vice-presidente da Emprotur pediram para deixar os cargos. O turismo vive um momento delicado? Isso o preocupa?
É... A gente se preocupa, mas sabe que pode contribuir de alguma forma. Tenho grandes amigos no trade turístico. Se soubermos fazer um trabalho a quatro mãos, vamos conseguir um bom resultado.

O senhor vem da Secretaria Municipal de Turismo. O que traz de experiência para a Emprotur?
Fui secretário adjunto. Trabalhei muito para o Prodetur (Programa de Desenvolvimento do Turismo) acontecer em Natal, mas infelizmente não obtive sucesso. Por razões outras. Não por falta de trabalho.

O que deu errado com o Prodetur - programa de crédito para o setor público (Estados e municípios) concebido para criar condições favoráveis à expansão e melhoria da qualidade da atividade turística, em Natal? 
O programa parou na análise da comissão de financiamento externo no Ministério do Planejamento. O Município, aparentemente, não mostrou capacidade de endividamento, que era de US$ 77 milhões. Foi isso que aconteceu. Pelo menos foi o que eu soube. O dinheiro não vem de uma maneira rápida. Os primeiros anos são de elaboração de projetos. Isso tudo demanda muito tempo e os recursos são pequenos. A partir do segundo e do terceiro ano, as obras começam a acontecer. Por isso, houve o desestímulo.

O senhor assume a Emprotur no período que precede a Copa de 2014. Terá como tarefa divulgar ainda mais o nosso destino no mercado internacional. O fato de ter de lidar com orçamentos mínimos não o preocupa?
A governadora prometeu liberar mais recursos para a divulgação no segundo semestre. Aguardo que ela cumpra a promessa, lembrando que divulgação não é despesa. É investimento. O retorno é rápido e garantido. Aplicamos no Natal Convention & Visitors Bureau - entidade mista que capta eventos para o estado - cerca de R$ 1 milhão e tivemos mais de R$ 20 milhões de retorno. 

Mas divulgação ainda é vista como despesa no Estado?
Quem não conhece o setor, pode não compreender a necessidade da divulgação. O principal já temos: as belezas naturais. Agora é só montar a infraestrutura e divulgá-la. 

Reclama-se muito da falta da divulgação. Só divulgar basta?
Não. Tem que montar a infraestrutura. E a gente tem feito. Claro, ainda tem muita coisa para fazer. Estamos trabalhando de pouquinho em  pouquinho.

Por falar em Copa, o Panrotas, portal especializado em Turismo, divulgou que Natal é a cidade-sede com menos voos diários. Isso o surpreendeu?
Eu já havia percebido isso. O mercado também já havia sentido. De posse dessa informação e dos dados que estamos levantando, vou tentar sensibilizar as companhias aéreas para tentar reverter este quadro. Não vai ser um trabalho difícil. Também vou conversar com o superintendente da Infraero esta semana para buscar mais informações e tentar aumentar o número de assentos para Natal. Temos uma rede hoteleira muito boa, mas poucos voos. É preciso lembrar, no entanto, que Natal recebe aviões maiores, com cerca de 170 lugares, enquanto Cuiabá - melhor colocada - recebe aviões menores, com 4 ou10 lugares. Nem sempre quem recebe menos voos, recebe menos passageiros.

Por falar em rede hoteleira, o risco de Natal ter uma superoferta de hotéis é moderado. Isso deixa o setor em alerta? Lembrando que novos hotéis continuam sendo construídos na capital.
Existe esta preocupação. Mas ela pode ser amenizada com uma boa politica de divulgação. Usaremos este argumento para exigirmos mais recursos. Já que corremos risco de ter uma super oferta, precisaremos de mais recursos para divulgação.

Isso então não seria um problema, mas parte da solução?
Isso. A gente tem que olhar com otimismo os cenários que se apresentam. 

O mercado potiguar comporta mais hotéis?
O número de hotéis quem regula é o mercado, e regula com propriedade. O governo não tem que se envolver nisso. Se a diária média está boa e tem muito hóspede, os hotéis são super bem vindos. Eles geram emprego e renda. Se a diária média está baixa e há ociosidade, não é bom, por que sucateia aquilo que a gente já tem. Se tivermos uma super oferta a qualidade vai cair. Temos que trabalhar para que isso não aconteça. 

Por falar em mais hotéis, o embate entre investidores e órgãos ambientais, acerca da Via Costeira - área que concentra boa parte dos hotéis de luxo da capital - não prejudica a imagem de Natal diante dos turistas e também dos investidores?
A Via Costeira foi pensada para ser uma área de interesse turístico. Este debate é tardio. A decisão foi tomada há 30 anos. Do ponto de vista do turista, não afeta em nada. Agora gera uma insegurança jurídica e causa um certo receio entre os investidores. Pode ser que o empresário não queira enfrentar este problema e fique desestimulado. É o meu ponto de vista.

Natal sempre foi um dos destinos turísticos mais procurados no país, mas vem perdendo espaço. Por que os outros Estados passaram na nossa frente?
Houve uma certa passividade. A hoteleria se sentiu desestimulada. Mas a gente tem que mudar isso. Tem que recuperar o que foi perdido.

Outros Estados dispõem de mais recursos para divulgação que o RN. É por isso que o RN tem ficado para trás?
Sim. A Bahia alguns anos atrás chegou a ter mais recursos do que o governo federal na área de divulgação. Hoje temos o Ceará e Pernambuco despontando como grandes investidores em turismo. O volume de investimento lá é muito grande. 

Saberia dizer em torno de quanto fica?
Não, mas é muito dinheiro. O Ceará está fazendo algumas obras estruturantes gigantescas. Estão inaugurando um centro de convenções para 30 mil pessoas. O nosso comporta oito mil. 

Ceará e Pernambuco compreenderam que investir em turismo é vantajoso, e o nosso Estado não?
Acho que é uma questão de prioridade. Existem muitas necessidades. Estamos  vivendo ano de seca. São 139 municípios enfrentando dificuldades... Eu não queria ser o chefe do executivo estadual.

Qual seria a melhor alternativa diante deste quadro?
Vamos buscar recursos em fontes diferentes. Não é tão fácil, mas vamos tentar. Precisamos estar antenados para inscrever projetos e captar mais recursos do governo federal. 

Faltam ações a longo prazo?
Precisamos de ações a curto, médio e longo prazo, para que o destino se renove e o turista queira voltar. Quero desenvolver uma feira de turismo local para o natalense conhecer e viajar pelo estado a preços promocionais, por exemplo. Por enquanto é apenas um projeto.

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